sábado, 13 de agosto de 2022

A historia do nome do ABC : O pacto de Argentina, Brasil e Chile

 As primeiras décadas do Século XIX foram marcantes para a definição da distribuição política do continente americano, sobretudo da América do Sul. Os países, antes divididos pelo Tratado de Tordesilhas, acordo assinado em 1494 entre os reinos de Portugal e Espanha, seus exploradores, passaram conquistar suas independências em um curto espaço de tempo. Muito embora, alguns vínculos tenham permanecido vigentes ainda durante muitas décadas, entre os anos de 1810 e 1830, todos os países sul-americanos passaram a ser considerados como “donos de seus próprios narizes”.

A manutenção desta condição, no entanto, pareceu que não iria durar muito tempo, sobretudo nas últimas décadas deste século, quando passou a ser notado o ressurgimento de certo impulso imperialista de conquista e anexação de territórios por parte de alguns países europeus. A motivação desde súbito interesse estava fundamentada por interesses econômicos, por conta da busca de novos mercados, militares, tendo em vista a criação de áreas estratégicas no globo, e por fim, talvez o mais forte deles, a busca pela afirmação de um orgulho nacional.

Este entendimento acabou por se mostrar definitivamente verdadeiro a partir de 1914 com a eclosão da I Guerra Mundial. Somado a isso, o significativo crescimento da influência norte-americana sobre os demais países do Continente Americano, passou a ser visto como preocupação, sobretudo, junto aos mais promissores países sul-americanos naquela época, Argentina, Brasil e Chile. Para isso bastava notar a adoção de medidas intervencionistas comandadas pelos presidentes William McKinley (1897-1901), Theodore Roosevelt (1901-9), William Howard Taft (1909-13) e Woodrow Wilson (1913-21), que chegaram a autorizar ocupações militares norte americanas em diversos países da América Central.

Este cenário serviu como “pano de fundo” para uma natural aproximação entre os países da América do Sul, principalmente através de acordos bilaterais, em sua grande maioria, focadas na “não agressão” entre as partes. Tendo em vista criar um bloco mais conciso entre as principais nações da região, através de um acordo de cooperação mútua, José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, que ocupava a pastas das Relações Exteriores do governo brasileiro iniciou negociações, entre os anos de 1907 e 1909, com os vizinhos chilenos e argentinos.

Em 1909, um grande passo neste sentido foi dado através de uma minuta elaborada a quatro mãos entre o nosso Barão e o chanceler chileno Puga Borner. A grande rivalidade entre o brasileiro e o argentino, Estanislao Zeballos, no entanto, acabou por retardar este processo, que só foi retomado em 1914, quando os três países exerceram uma mediação conjunta, ante um conflito entre Estados Unidos e México.

Cientes que a existência de um acordo formal poderia ajudar a consolidação de um ambiente de maior cordialidade entre os países por conta da existência de construção de uma “inteligência cordial”, da “comunhão de ideias e interesses” e do pleno afastamento de possíveis conflitos no futuro, os chanceleres da Argentina, José Luis Muratore, do Brasil, Lauro Muller, e do Chile, Alejandro Lira, reunidos em Buenos Aires, assinaram em 25 de maio de 1915, o “Tratado para Facilitar a Solução Pacífica de Controvérsias Internacionais”, que passou para a história como o “Tratado do ABC”, devido as iniciais de cada um dos países signatários.

Torcida do ABC (Crédito: Andrei Torres/ ABC FC/ Flickr) 

Naquela época, o pacto foi considerado um marco na história das relações dos países latino-americanos uma vez que até aquele momento, os acordos firmados, sempre tinham como principais protagonistas os países europeus e/ou Estados Unidos.

O ineditismo e a importância do Tratado do ABC, sobretudo em tempos de I Guerra Mundial, logo se espalhou por todo Brasil, uma vez que explicitava uma efetiva unicidade entre as nações. A abreviação do nome, ABC, também chamou a atenção, sobretudo, do comerciante José Potiguar Pinheiro, sócio da Associação Comercial do Rio Grande do Norte, ACRN, entidade fundada em 1892, cujos integrantes costumavam se reunir para discutir assuntos de interesse da classe e as notícias publicadas nos jornais locais.

Assim surgiu o América. Como se tivessem nascidos um para o outro, coube aos, já rivais, se enfrentarem na primeira partida de futebol disputada em solo potiguar, em 26 de setembro de 1915, em um campo improvisado que atraiu muito interesse dos habitantes da cidade de Natal.

Para se ter uma ideia, certa vez, Luís da Câmara Cascudo, um dos maiores brasileiros da história chegou a afirmar que “na cidade de Natal, havia um povo chamado ABC”. Este amor incondicional cresceu ao passar dos anos, sobretudo, pelo sucesso da equipe em suas partidas, o que fez com que alcançasse a incrível marca de 52 títulos do campeonato estadual.

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