sábado, 29 de outubro de 2022

Os 50 anos da Bola de Prata de Alberi pelo Alberi

 





Uma das maiores conquistas individuais do futebol do Rio Grande do Norte completa aniversário em 2022. E não foi qualquer conquista. Em 1972, então com 27 anos, o meia Alberi, camisa 10 do ABC, desbancou grandes craques do futebol brasileiro e foi eleito um dos melhores atacantes do Campeonato Nacional de Clubes, versão da época do que seria hoje o Brasileirão. A conquista não foi por votação, e sim por méritos: Alberi obteve nota média de 8, da Revista Placar, e se tornou o primeiro e único até os dias atuais a conquistar a Bola de Prata atuando por um clube do Rio Grande do Norte. “Ficaram surpresos em me ver lá”, relembra o craque, que cinco décadas depois, só daria a Bola de Prata para o amigo e ex-companheiro de ABC, Danilo Menezes.


Em entrevista exclusiva à TRIBUNA DO NORTE, o ex-jogador e um dos maiores ídolos do futebol do Rio Grande do Norte relembrou os bastidores da conquista e do ano memorável em 1972, em que o Santos de Pelé jogou em Natal e contou ainda com o natalense Marinho Chagas brilhando em cenário nacional, pelo Botafogo-RJ.  Segundo Alberi, hoje com 77 anos e lutando contra as consequências da diabetes, os outros jogadores premiados não esperavam ter um atleta do Nordeste na seleção final da Placar.


“Chegamos em São Paulo, ficamos no mesmo hotel. Era muita resenha. Marinho Chagas estava lá. Papo pra cá, pra lá, eu falei: isso aqui é bom demais, mas é melhor tá em casa”, lembra Alberi, que foi a São Paulo com sua esposa. “Fomos para o Clube dos Artistas, me levaram para um restaurante. Eles ficaram surpresos porque era um dos únicos do Nordeste a ser Bola de Prata”, lembra Alberi.

“Foi algo fora de série pra mim porque não existia, à época, um time do Nordeste como o ABC ter um jogador e chegar lá e ser Bola de Prata. Passei cinco jogos sem participar e ainda ganhei o troféu.”, comenta.

Para se ter ideia do feito, Alberi foi o melhor meia do torneio mesmo com o ABC tendo feito uma campanha fraca, que rendeu ao clube o 24º lugar de 26 clubes, com 5 vitórias, 7 empates e 13 derrotas. O campeão do torneio foi o Palmeiras, em cima do Botafogo.

Nos arquivos do jornal TRIBUNA DO NORTE, a conquista da Bola de Prata era quase que citada diariamente nas páginas do caderno de Esportes, tamanha a conquista de Alberi. A nota triste ficou por conta do ABC, que escalou jogadores irregulares num jogo contra o Botafogo na época e ficou suspenso dois anos de atuar nos torneios nacionais.

“Se a punição ao ABC for mantida, não adiantou nada eu ganhar a “Bola de Prata", lamentava Alberi na edição da TN de 27 de dezembro de 1972. Após a conquista, clubes como Botafogo, Fluminense e Internacional tentaram contratar o craque, mas ele recusou pois já estava habituado à Natal.

Passados 50 anos, o discurso é outro. Alberi é enfático ao dizer que a conquista é a maior de um atleta pelo futebol do RN e dedica a conquista à família, em especial a esposa, Marluce.

“É maior conquista da minha vida porque foi algo nacional. Eu acho que dei muita sorte por ser o primeiro e o único, porque não é fácil você ser um ídolo do Brasil. Fui ídolo nacional, não só de Natal. Eu me perguntava: será se eu jogo isso tudo mesmo. Naquela época só tinha fera”, lembra aos risos o craque.

A Seleção do Brasileiro final ficou da seguinte forma: Leão (Palmeiras/SP); Aranha (Remo/PA), Figueroa (Internacional/PA), Beto Bacamarte (Grêmio/RS), Marinho Chagas (Botafogo/RJ), Piazza (Cruzeiro/MG), Ademir da Guia (Palmeiras/SP), Zé Roberto (Coritiba/PR), Osni (Vitória/BA), Alberi (ABC-RN) e Paulo César Caju (Flamengo/RJ).

“O jogo entre ABC 2x2 Palmeiras, que foi o último da competição, Alberi fez um gol de pênalti. O Palmeiras abriu 2 a 0. Muita gente boa ficou de fora da seleção. Acho que uma vantagem de Alberi ter conquistado a Bola de Prata foi o fato de que o ABC fez praticamente todos os jogos em casa”, lembra o pesquisador do futebol potiguar, Marcos Trindade.

“A Placar colocou Alberi como centroavante. Colocou também Leivinha, do Palmeiras, Alberi superou jogadores consagrados como Tostão, do Vasco, Dário, do Atlético-MG. O Campos, do Nacional de Manaus, ficou na frente desses dois jogadores. No final das contas, Alberi ganhou com a nota 8. O Campos teve 7,6. Eu considero isso uma conquista fantástica. Ele superou muitos jogadores tradicionais do futebol brasileiro”, complementa Trindade.    

Elogios de Pelé e Zagallo e festa no Aeroporto Augusto Severo: os bastidores do ano memorável. O ano de 1972 não foi memorável não apenas pela conquista da Bola de Prata, mas por uma série de outras questões para Alberi. Uma dessas situações foi um encontro com Pelé, na partida ABC 0x2 Santos, maior público da história do futebol potiguar.

“Chamo Pelé de meu cumpadi. Essa foto eu o chamei para tirar  comigo. Ele veio e falou: você é o único jogador desse time que merece estar participando do Brasileirão. Eu agradeci”, relembra o ex-camisa 10. A foto, histórica, é colocada num quadro especial na sala da casa de Alberi.

Ainda naquele ano, no dia 04 de outubro, o confronto entre ABC 0x0 Flamengo, no Castelão, ficou marcado por ser uma das maiores atuações individuais de um atleta num clube potiguar. O público foi de 32.707 pagantes. “Alberi rebaixou o Flamengo a seus pés. Deixou transformada em pó a arrogância de Zagallo, menor que o próprio ego pelo tricampeonato no México e pela conquista da Mini-Copa naquele ano em que topou com Alberi. Alberi androide, Alberi enfeitiçado, Alberi fúria. Alberi arte. Zagallo berrava a cada finta do Negão sobre seus marcadores, o limitado Liminha e o talentosíssimo Zanata. Liminha ia de vez. Alberi dava o breque e o corte seco, humilhante. Arrematava o torpedo de pé direito. “Marca a direita desse homem”, desesperava-se Zagalo. Alberi mudava o repertório. Bola dominada, só dele, partia para cima dos dois pobres vigilantes, Zanata chegou a ser substituído por Zé Mário e, então, dava o gancho para a esquerda e fuzilava de canhota”, escreveu o jornalista e escritor Rubens Lemos Filho.

O desempenho nessa partida deu nota 10 a Alberi, o que acredita-se que foi fundamental para a conquista da Bola de Prata. Alberi relembra que na volta à Natal muitos torcedores foram recepcioná-lo no Aeroporto Augusto Severo. “Parecia um feriado nacional. Quando cheguei no aeroporto, não conseguia nem andar de tantos torcedores de ABC e América”, lembra.

Alberi foi hexacampeão potiguar de futebol, sendo cinco títulos pelo ABC (incluindo um tetracampeonato) e uma conquista pelo América de Natal. Foi ainda campeão paraibano, pelo Campinense, e conquistou a Taça Cidade do Natal, pelo Alecrim. Pelo ABC, foram 210 gols, clube o qual é considerado o maior ídolo e o segundo maior artilheiro da trajetória Alvinegra.

f: Ícaro Carvalho/ Repórter - tribuna do norte

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